Uma carta redigida por ti para expor os fatos que vieram a traze-lo até os dias de hoje, me mantendo à par. Uma carta compreendida como verdade e tornada como história aqui exposta agora. Sei que disseste achar constrangedor que esta fosse pública, mas, como um ato desesperado e desleal faço isso para saber se ainda se ocupa com a leitura deste meio nada tímido e indireto que utilizo para falar de mim. Modifiquei os nomes em tua carta para manter a "dignidade" desses seres, onde me chamo Ana.
"Ana, vou contar a você três anos de historia. Eu pretendia fazer isso via comentário em sua rede de palavras, mas achei muito 'constrangedor' e não ia ficar bem em colocar isso em meios públicos.
Eu mudei de escola, sem pensar duas vezes, mudei por mim, não pensei em nada -nem ninguém- me arrependi das coisas que perdi. Foram dois anos sem aprender praticamente nada, dois anos de estagnação intelectual, dois anos de auto-abandono, mas, consegui meu diploma (objetivo concluído).
Na escola, durante o segundo ano, conheci uma garota. Não era a mais bela e nem de longe a mais bonita, ela era a que mais precisava de alguém. Alguém para cuidar dela, alguém para zelar por ela... Senti-me praticamente no dever de cuidar dela, como um pai sente de cuidar do filho, o problema foi que ela se apaixonou por mim porque afinal "não é todo dia que um príncipe escolhe a gata borralheira" - nas palavras da mesma-. E então, eu descobri nela algo pra me apegar, algo pra suprir a falta que eu senti de você, não apenas amorosamente -me refiro à relação homem e mulher- mas também da companhia que você me fazia TODO O TEMPO. Eu achei que tinha perdido você para sempre.
Tive que me tornar um homem maduro, tive que ser rude, tive que ser grosso, tive que chorar e sangrar sozinho, tive que mudar quem eu era para poder me adequar a essa nova forma de afetividade que se desenvolveu em mim, me transformei no príncipe que ela precisava que eu fosse... Achei que nunca mais precisaria, conseguiria voltar a ser quem eu era antes. Desisti de tentar ser as duas coisas ao mesmo tempo. Assumi de vez o papel que a vida me deu para interpretar, assumo, menti para ela, menti para meus pais e para meus amigos. Mudei completamente minhas atitudes e meu ser. E estava 'bom', até a alguns dias atrás (dois antes de te ver, para ser exato).
Eu estava sozinho, em casa com uma musica qualquer tocando só para quebrar o silencio e não sei o que me deu: comecei a pensar, a lembrar... Comecei pela minha infância (o pouco que lembro). Lembrei-me de meus brinquedos, das brincadeiras favoritas... Avancei um pouco, lembrei-me da primeira série, as paixonites eternas, as risadas e demais brincadeiras. Depois fui para a oitava série. Meu primeiro beijo... Não era uma namorada, era uma amiga e eu era apaixonado por ela. Numa tarde em minha casa, na hora da despedida, ela me beijou e foi embora e como se nada tivesse acontecido nossa vida seguiu. Eu nunca esqueci.
E então fui para a Vargas... Afastei-me dela, a mesma que me incentivou a ir. Entrei em decadência e pela primeira vez senti a sensação do auto-abandono. Um ano passou: péssimas notas, péssimos amigos, péssima aprendizagem, enfim, um péssimo ano, mas, foi ai que você entrou na minha vida... Como uma boa amiga, você me fazia rir, me entendia, brigava comigo, se divertia com minhas infantilidades, admirava meus conhecimentos e argumentos sem fundamento, enfim, você gostava de mim. Fascinei-me com isso, mas como uma criança eu não soube reconhecer que o que eu sentia era amor. Puro, simples, intenso e essencial.
Depois de meses de brincadeiras e indiretas, em uma das vezes que fui te levar até uma parte do caminho para casa, você me beijou... foi assustador, eu fiquei surpreso, eu tive vontade de sair correndo, eu tive medo... Mas eu fiquei, pois estava ótimo e quando você quis ir, eu não deixei e outro beijo aconteceu... E então se desencadeou a coisa mais intensa que já ocorreu na minha historia: meu "namoro" com você.
Porém, como tudo que é intenso de mais, ele brilhou, brilhou e... Por algum motivo que não me vem à memória, começou a definhar... Não o sentimento, isso nunca acabou, mas o relacionamento.
Hoje eu vejo que a culpa foi minha. Eu não falei, eu não agi, eu não fiz, eu não quis, mas principalmente eu TEMI. Temi tudo. Sempre. Desde o começo, como uma criança com medo da luz - não ouso comparar com o escuro-. E assim nós seguimos – separados-, sem falar, sem explicar, sem entender, sem pensar.
E então, repentinamente, o fim do ano chegou, e eu comecei meu 'plano de vitoria'. Mudei de escola e foi lá que vi o quanto você era importante. Foi lá que senti sua falta. Mas tive medo de voltar, tive medo do que faria se eu te procurasse depois de te abandonar como se você fosse um brinquedo velho que a criança não precisava mais.
Decidi te tirar de minha vida, da minha cabeça... Do meu coração.
Conheci garotas, sai com boa parte delas, mas nenhuma delas me despertou uma faísca se quer da chama que incandescia por você. Mas continuei tentando. Continuei mentindo para todos, inclusive a mim mesmo.
Até que um dia a Leila chegou. A garota problemática, uma família turbulenta, uma realidade complicada e uma historia arrepiante. Uma garota que precisava virar mulher, mas não sabia como. Ela encontrou a faísca e se agarrou a ela com tanto ardor e esperança que ela fez acender, não a sua chama, mas algo novo, um sentimento mais fraternal - que hoje eu vejo que é APENAS fraternal-. Algo que me satisfez o suficiente por um ano ou algo tão perto disso que não faz diferença.
Foi aí que você apareceu e com um sorriso e um olhar me disse: "esta tudo bem, eu não te odeio, eu ainda sei quem você é e espero que não suma de novo!!!". E em questão de segundos eu lembrei quem eu era, aquela criança medrosa, e vi o quanto eu estava longe dela. Descobri que tinha fugido de mim mesmo, percebi que me tornei um personagem da minha vida, ou melhor, um personagem da vida dela [Leila]...
E agora eu estou despejando tudo em cima de você. Talvez isso seja mais um ato de meu egoísmo sem fim, mas deve ser feito, não vou errar de novo - ao menos não da mesma forma-.
Acho que essas palavras deveriam ser ouvidas ou lidas por você, Ana. Tire suas conclusões, entenda como quiser, entenda o que tiver de entender. Porém, desta vez não serei culpado de não ter dito.
Hoje [06/07/12] eu conversei com a Leila, pois ela reparou que eu não estava 'normal', e então eu falei, não com tantos detalhes quanto estou a fazer para você, mas eu disse o suficiente para que ela entendesse que eu não sou alguém com quem ela sempre sonhou e que eu estava interpretando -forma gentil de denominar mentirosos: Atores- para ela. Eu estou triste por ela, pois o príncipe dela se desfez em uma chuva de maquiagem. Eu estou completamente agradecido a você por ter me salvado de mim mesmo. Eu estou com raiva de mim por ter lhe 'torturado' por três anos.
Agora cabe a você decidir o que fazer comigo, Aninha.
Adoro você, senti muito sua falta."
Carta de Renato a Ana.
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Porque, aliás, não posso falar. Então escrevo...