domingo, 14 de dezembro de 2014

Peça solta

Uma ovelha desprendida, desgarrada e desnaturada.
Talvez seja isso o que eu seja.
Um ser solto, porém, preso e sem raízes...

Um ser solto e sem muitos vínculos emocionais familiares. 
Desde muito cedo sou assim, ao que me lembro. Nunca fui muito de querer frequentar casa de parentes, nem gosto muito de estar enfurnada em suas residencias por muito tempo. Não vejo necessidade de mais nisso. Em visitas duradouras, em fazer peregrinação de casa em casa, tio, tia, avô, periquito do papagaio de tátara-tia-avó, etc...
Não sinto uma amizade por eles, que a verdade seja dita, não me sinto tão necessária em suas vidas. Me vejo como um ente querido que faz parte dessa pequena porção de sociedade, desse círculo familiar de convivência. E só. 
Não me sinto como um pilar para essa construção, muito menos como peça primordial - claro que também não me tenho como apenas uma poeira nesse chão - mas, não passo de uma pequena peça de porcelanato no piso da sala de estar, aquela do cantinho, sabe, bem debaixo do rack da tv, aquela que tem só uma pontinha aparente no ambiente. Quase ninguém vê, ninguém nem sequer nota a sujeira que existe nela, nem o brilho de quando está limpa. Vez ou outra, quando se modifica a disposição dos móveis da sala, pode-se notar sua presença, mas, são raras as vezes que se chega no local e sente-se sua ausência.
Sou grata pela vida de todos estes meus entes, por sua saúde e pela presença deles em minha vida, mas, não me sinto parte desse todo e muitas vezes tenho o desejo de sumir. Não para causar falta, dissimular saudades... não, mas sim para me encontrar. 
Admiro os que dizem "minha família é tudo para mim", "sem eles eu nada seria", "tudo o que sou e tudo o que tenho são eles...", acho lindo esse discurso. Meus parabéns pela oratória! 
Não que eu não seja assim, mas, de fato, não sou. Cresci desprendida. Sei do valor que essas pessoas tem em minha vida e que sem eles eu não estaria aqui, claro, e que muito eles tem me ajudado, que com eles eu sempre poderei contar e tudo mais... mas, deixar de viver ou deixar de fazer as coisas que eu quero e que acho boas/certas para mim estão fora de cogitação - até segunda chamada. 
Cada qual tem uma visão diferente. 
Se me surgisse AGORA uma oportunidade de ir embora, fazer minha vida fora daqui tendo que largar tudo e todos... eu iria. 
Eu iria sem o medo de voltar e não encontrar mais nada igual, pois saberia que o amor que eles tem por mim e o carinho que tenho por eles não se alteraria em nada. 
Saudades sempre haverão de existir. Normal, até porque, ninguém vive sozinho. 

"É impossível ser feliz sozinho..." - o digníssimo cantou.

Mas a minha verdade é que não tenho nada que me prenda - fisicamente e emocionalmente - nesse solo no qual estou. E que me sinto alguém fria e sem raízes ao dizer essas coisas, mas, sinto plena veracidade e sinceridade em minhas palavras.       
Sou uma peça solta, carta fora do baralho, uma peça de dominó perdida em meio ao UNO.